A era das plantas invasoras

Pesquisa aponta para os riscos da proliferação de espécies invasoras com o aquecimento do planeta
Tatiana Nepomuceno - redacao@revistaecologico.com.br
Ciência
Edição 145 - Publicado em: 01/09/2023

Que as mudanças climáticas causam eventos catastróficos a nível global, todo mundo já sabe. Também não é nenhuma novidade que seu impacto na biodiversidade do planeta é devastador. Entretanto, mesmo sabendo de todas as mazelas causadas pelo aquecimento global, há uma forte corrente negacionista acerca dos males causados à natureza; por consequência, a nós próprios. Será que é preciso que a humanidade sinta os efeitos da escassez de alimentos e fome abrupta para tomar consciência da sua própria aniquilação? Essa é a novidade trazida pelo estudo conduzido por brasileiros, publicado em periódico internacional (Journal of Plant Research), que adverte sobre os efeitos do aquecimento global na proliferação de espécies de plantas invasoras.


A pesquisadora Drielly Queiroga, da Universidade de São Paulo (USP), que participou do estudo, conta que apesar da pesquisa não ter como foco as mudanças climáticas, o alerta acerca das consequências do aquecimento global na proliferação de determinadas espécies invasoras foi inevitável “Ao pesquisar sobre o papel do tamanho do genoma (TG) e da ploidia; bem como as variáveis ambientais que afetavam a distribuição destas plantas, descobrimos que certas espécies que possuíam vários genomas (poliplóides) eram aquelas com maior capacidade invasora; tolerantes a altas temperaturas e pluviosidade. Como as previsões para as próximas décadas não são nada animadoras, é possível que o aquecimento global favoreça imensamente essas plantas, aumentando sua distribuição”, adverte.


Isso ocorre porque as altas temperaturas desencadeiam inúmeras mudanças no ambiente. As espécies invasoras conseguem se adaptar rapidamente, mas as nativas não. Elas encontram dificuldades na ambientação abrupta e na competição com as invasoras “Não é possível afirmar a forma exata como isso vai acontecer em todo o mundo, pois não sabemos exatamente como algumas comunidades podem se comportar com essa alteração climática e de paisagem, mas, de forma geral, é esperado uma grande perda de diversidade, não só de espécies, mas também de funções ecológicas, uma vez que o ambiente tenderá a ser homogeneizado pelo favorecimento de poucas espécies aptas a sobreviver às mudanças tão acentuadas no clima”, explica.


E tem mais. Em função da alta taxa de crescimento e reprodução das espécies invasoras, além da sua capacidade de colonizar largas áreas (competindo por nutrientes, luz e água), é possível que essas plantas possam afetar a agricultura e aumentar o custo de produção nas fazendas. Isto porque o alto custo no manejo em cenários de invasão é um fato. “A triste previsão é um panorama onde os alimentos vão ficar cada vez mais caros e inacessíveis, principalmente nos locais onde a insegurança alimentar é maior e dependem de monoculturas”, avalia. Portanto, no contexto atual, onde a demanda por alimentos só aumenta, quando na verdade deveria diminuir, saber quais fatores são os responsáveis por algumas espécies vegetais se tornarem ótimas invasoras é vital. “Ajuda a prever em que direções elas podem se expandir de acordo com as mudanças ambientais e, de antemão, tomar medidas de contenção para minimizar os impactos”, avalia.


A pesquisadora também explica que é possível, a curto prazo, adotar medidas que possam mitigar os efeitos da proliferação de plantas invasoras frente a cenários de mudanças climáticas: “Incentivar à agroecologia e potencializar a fiscalização da importação de cultivares, ou qualquer material de origem vegetal que possa trazer para o país sementes dessas plantas seria um bom início.”, aconselha. Entretanto, Queiroga adverte que o que realmente irá dar êxito aos resultados é conter os fatores facilitadores para essas plantas, que são justamente aqueles relacionados ao aquecimento global: “O maior alerta é que as mudanças climáticas vão gerar prejuízos muito maiores do que podemos imaginar e nosso tempo para fazer algo a respeito está acabando”, finaliza.


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