Como nada acontece fora de um plano maior da natureza humana, seja ela política, divina ou simplesmente evolutiva, uma data especial já está marcada para os belo-horizontinos. Será entre os dias 29 de maio e 02 de junho de 2012, quando a capital mineira sediará, por mérito histórico, vontade e decisão política, o Congresso Mundial do ICLEI 2012, sigla do International Council for Local Environmental Initiatives. Uma associação democrática e internacional de governos e organizações locais que assumiram compromissos com o desenvolvimento sustentável. Nada menos que 800 prefeitos de 70 países dos 1.200 governos locais associados ao ICLEI estarão aqui, entre as nossas montanhas ainda carcomidas e ameaçadas (vide o polêmico mega projeto imobiliário pretendido na ex-Mineração Lagoa Seca, na Serra do Curral), discutindo um novo, ambiental e sustentável jeito de fazer política, edificar e administrar suas cidades.
Isso significa que Belo Horizonte estará no foco da opinião pública internacional exatamente uma semana antes, como uma instância preparatória para a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (RIO + 20, que acontecerá entre os dias 04 e 06 de junho de 2012 na capital fluminense, será quando governos, estadistas, ambientalistas e a comunidade científica do mundo inteiro rediscurão, sob uma ótica mais ampla, o seu futuro comum sobre o planeta em degradação urbana e aquecimento acelerados. Um olho planetário antes aqui, na Cidade Jardim. Outro depois, na Cidade Maravilhosa. Ambas sediando talvez a última esperança da humanidade poder reverter com políticas públicas a realidade incontestável das mudanças climáticas em seus municípios, que é onde tudo principia e acontece.
A iniciativa made in Minas foi oficializada em 17 de setembro do ano passado, em uma carta assinada por Marcio Lacerda endereçada ao secretário-geral do ICLEI, Konrad Otto-Zimmermann, em Bonn, na Alemanha. Nela, o prefeito apresentou e pediu a candidatura de Belo Horizonte para sediar o congresso mundial, fazendo referência às montanhas que nos caracterizam: "Cercada pela Serra do Curral, que nos serve de moldura natural e referência histórica, nossa cidade foi fundada em 1897, planejada e construída para ser centro político e administrativo do estado. Ela apresenta uma mistura de tradição e modernidade, destacando-se pela beleza de seus conjuntos arquitetônicos e por sua rica produção artística e cultural. Conforme estimativas de 2008, com uma população local de 2,4 milhões de habitantes, somos a sexta cidade mais populosa do Brasil". E acrescentou, justificando o pedido:
Posição exitosa - "Belo Horizonte já foi indicada pela Population Crisis Committee, da ONU, como a metrópole com melhor qualidade de vida na América Latina e a 45ª. entre as 100 melhores cidades do mundo. Tem o quarto maior Produto Interno Bruto (PIB) entre os municípios brasileiros, representando 1,38% do total das riquezas produzidas no país. Uma evidência do nosso desenvolvimento, nos últimos tempos, é apresentada pelo ranking da Revista América Economia, no qual o nosso município figura como uma das oito melhores cidades para fazer negócios da América Latina, em 2009, posicionando-se em segundo lugar. Formada por 34 municípios, a Região Metropolitana de Belo Horizonte possui uma população estimada em 5,4 milhões de habitantes, sendo a terceira maior aglomeração populacional brasileira, sétima da América Latina e a 62ª. maior do mundo".
Em sua carta ao secretariado mundial do ICLEI (leia na íntegra em nosso site www.revistaecologico.com.br), Lacerda destacou a contemporaneidade político-administrativa da nossa história ambiental, o que não é conhecido nem divulgado pela mídia convencional: "Nos últimos anos, Belo Horizonte adquiriu uma exitosa experiência na gestão em redes internacionais de cidades. O município hoje preside o Centro Iberoamericano de Desenvolvimento Estratégico Urbano (CIDEU), com o objetivo de compartilhar, em rede, os benefícios derivados dos processos de planejamento estratégico urbano. Dessa forma nós sediamos o XVIII Congresso do CIDEU, em julho de 2009, com a participação de 200 autoridades e especialistas representantes de 50 cidades iberoamericanas. A capital mineira também integra e coordena a Rede Territorial Brasileira da Associação Internacional de Cidades Educadoras, que visa trabalhar, conjuntamente, em projetos cuja tendência é desenvolver o valor educador do contexto urbano em todos os espaços. Somos ainda membros da Rede Mercocidades, cujo objetivo é favorecer a participação dos municípios no processo de interação regional e desenvolver o intercâmbio e a cooperação horizontal entre as municipalidades da região".
Entre os dias primeiro e três de dezembro de 2011, lembrou Lacerda, Belo Horizonte assumirá as funções de Secretaria-Executiva da Rede, com a organização da XV Cúpula das Mercocidades e a participação esperada de 800 pessoas. "Vale ressaltar ainda a nossa posição como sede no Programa 100 Cidades, calcado na lógica do ‘Pensar Globalmente e Agir Localmente’”, ele escreveu, referindo-se à realização do Fórum de Cooperação Descentralizada Itália-Brasil, que ocorreu em julho de 2006, possibilitando a assinatura de um protocolo de intenções em vigor entre Beagá e Turim.
O prefeito termina a carta lembrando que a "Belo Horizonte comprometida com a sustentabilidade" será uma das cidades-sede da Copa do Mundo em 2014, bem como uma das sub-sedes dos Jogos Olímpicos de 2016. E que, por todos estes motivos, a capital dos mineiros está apta a assumir este grande desafio, que é sediar o Congresso Mundial do ICLEI’2012, uma semana antes da RIO + 20.
Resultado: ele concorreu e venceu seus colegas prefeitos de 35 outras cidades que integram o ICLEI. Convenceu. A própria organização, em resposta afirmativa divulgada internacionalmente, reconhece que "ações destinadas a garantir o desenvolvimento sustentável já são uma realidade na capital mineira, onde vigora, por exemplo, a proibição da utilização das sacolas plásticas pelo comércio". Nada menos que 450 mil sacolas não mais produzidas por dia, cujo destino final era os bueiros e cursos d´água rumo a outros municípios, estados e o oceano, comprometendo e matando peixes, aves, tartarugas e outros animais, além de deteriorarem, sujarem e tornarem feias as paisagens naturais pelo caminho.
Lacerda, enfim, plantou e irá colher os frutos. O encontro do ICLEI está oficialmente marcado para acontecer no município também já chamado e possível de voltar a ser, além de "Jardim", a "Cidade Vergel" do Brasil, segundo os versos de Olavo Brás dos Guimarães Bilac.
Passará a mostrar os quatro principais desafios que ele terá de enfrentar e resolver para comprovar, perante a opinião pública, o seu sonho sustentável para a Belo Horizonte que se almeja até 2030:
LAGOA SECA
A pressão da ocupação imobiliária versus preservação e ampliação dos parques das Mangabeiras e Paredão no sopé da Serra do Curral, onde serão extintas, em setembro de 2012, as atividades durante 50 anos da Mineração Lagoa Seca. A condicionante original do licenciamento ambiental prevê a sua transformação e doação como área verde e de lazer à população;
BOULEVARD DO ARRUDAS
Até hoje não foi implantado o original Projeto de Recuperação Ambiental, Urbanística e Paisagística (Boulevard do Arrudas) ao longo da Av. dos Andradas, entre a Ponte do Perrela e a Penitenciária Estevão Pinto, passando pela Câmara Municipal. Aprovado por unanimidade e voto de louvor pelo Comam, a PBH já tem R$ 5,5 milhões em caixa, para implantá-lo via Operação Urbana autorizada desde a Administração Fernando Pimentel. Os recursos foram repassados pelo empresário Nelson Rigotto, como compensação ao licenciamento ambiental de construção do Boulevard Shopping.
NOVO MINEIRÃO
Como evitar que toda a área externa do Mineirão (onde por causa das reformas pró-Copa do mundo foram cortadas 6.400 árvores frondosas) se transforme num monumento tão somente dedicado à aridez do cimento e asfalto, sem verde, sem flores, sem passarinhos e sem sombra para a população em uma cidade, um estado, um país e um planeta em acelerado aquecimento global?
CIDADE JARDIM
Arborizar as principais vias e avenidas reformadas da capital, como a Linha Verde até o Aeroporto de Confins e da nova Antônio Carlos, onde antes também haviam milhares de árvores, os chamados "jardins verticais" implantados pelos prefeitos anteriores e hoje só se vê passeios públicos e canteiros centrais de cimento. Extensas áreas "verdes"entre o asfalto, apenas com grama e palmeiras tipo "Miami", que não dão sombra, nem flor nem atrai passarinhos, muito menos amenizam o clima.
Nesse enfrentamento desejável que não é mais cativo dos ambientalistas, mas de todo e qualquer cidadão que vive e sofre na pele os efeitos das mudanças climáticas, principalmente nos centros urbanos áridos e sem bucolismo, a Revista ECOLÓGICO sua missão. Discutir mostrar por que, indiferentemente do medo da Meta BH 2030 ser só um discurso e da desconfiança nata que nos caracteriza como mineiros, é mais ecológico, inteligente, político e sustentável acreditar e participar do sonho de Lacerda. Termos esperança. Acreditar, cobrar e torcer, ainda que pareça tarde no relógio global da natureza que nos protege e ameaça. Afinal, como dizia Drummond, o tempo presente, humano e urbano, também urge: "Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas..."
Você Sabia?
- Que os impactos ambientais da construção civil vão desde o alto consumo de recursos naturais (energia, água, petróleo), passando por emissões de gás carbônico (CO2) e outras substâncias tóxicas até a elevadíssima geração de resíduos?
- Que a geração de entulho por construções e demolições é maior que todo o lixo urbano?
- Que dos recursos naturais extraídos na América Latina, mais da metade são consumidos pela construção civil?
- Que a quantidade de resíduos de construção e demolição no Brasil é em torno de 450 kg/habitante/ano ou cerca de 80 milhões de toneladas/ano, causando impactos no ambiente urbano e nas finanças municipais.
- Que o setor de construção civil gera 17 mil toneladas de entulho por dia na Região Metropolitana de São Paulo e Belo Horizonte, do total de resíduos produzidos, 42% advêm dos resíduos da construção civil?
- Que melhor que edificar e construir a qualquer custo socioambiental, é humanizar o que já foi urbanizado e preservar integralmente o que ainda existir de áreas verdes naturais em nossas cidades para as próximas gerações?