ELE TEM UMA CARTA NA MANGA

Por que Belo Horizonte reivindicou, foi escolhida e irá sediar o Congresso Mundial de Governos Locais para a Sustentabilidade uma semana antes da RIO+20
Hiram Firmino – Hiram@revistaecologico.com.br

Edição 37 - Publicado em: 30/11/-0001

Co­mo na­da acon­te­ce fo­ra de um pla­no maior da na­tu­re­za hu­ma­na, se­ja ela po­lí­ti­ca, di­vi­na ou sim­ples­men­te evo­lu­ti­va, uma da­ta es­pe­cial já es­tá mar­ca­da pa­ra os be­lo-ho­ri­zon­ti­nos. Se­rá en­tre os dias 29 de maio e 02 de ju­nho de 2012, quan­do a ca­pi­tal mi­nei­ra se­dia­rá, por mé­ri­to his­tó­ri­co, von­ta­de e de­ci­são po­lí­ti­ca, o Con­gres­so Mun­dial do ICLEI 2012, si­gla do In­ter­na­tio­nal Coun­cil for Lo­cal En­vi­ron­men­tal Ini­tia­ti­ves. Uma as­so­cia­ção de­mo­crá­ti­ca e in­ter­na­cio­nal de go­ver­nos e or­ga­ni­za­ções lo­cais que as­su­mi­ram com­pro­mis­sos com o de­sen­vol­vi­men­to sus­ten­tá­vel. Na­da me­nos que 800 pre­fei­tos de 70 paí­ses dos 1.200 go­ver­nos lo­cais as­so­cia­dos ao ICLEI es­ta­rão aqui, en­tre as nos­sas mon­ta­nhas ain­da car­co­mi­das e amea­ça­das (vi­de o po­lê­mi­co me­ga pro­je­to imo­bi­liá­rio pre­ten­di­do na ex-Mi­ne­ra­ção La­goa Se­ca, na Ser­ra do Cur­ral), dis­cu­tin­do um no­vo, am­bien­tal e sus­ten­tá­vel jei­to de fa­zer po­lí­ti­ca, edi­fi­car e ad­mi­nis­trar suas ci­da­des.

Is­so sig­ni­fi­ca que Be­lo Ho­ri­zon­te es­ta­rá no fo­co da opi­nião pú­bli­ca in­ter­na­cio­nal exa­ta­men­te uma se­ma­na an­tes, co­mo uma ins­tân­cia pre­pa­ra­tó­ria pa­ra a Con­fe­rên­cia das Na­ções Uni­das pa­ra o De­sen­vol­vi­men­to Sus­ten­tá­vel (RIO + 20, que acon­te­ce­rá en­tre os dias 04 e 06 de ju­nho de 2012 na ca­pi­tal flu­mi­nen­se, se­rá quan­do go­ver­nos, es­ta­dis­tas, am­bien­ta­lis­tas e a co­mu­ni­da­de cien­tí­fi­ca do mun­do in­tei­ro re­dis­cu­rão, sob uma óti­ca mais am­pla, o seu fu­tu­ro co­mum so­bre o pla­ne­ta em de­gra­da­ção ur­ba­na e aque­ci­men­to ace­le­ra­dos. Um olho pla­ne­tá­rio an­tes aqui, na Ci­da­de Jar­dim. Ou­tro de­pois, na Ci­da­de Ma­ra­vi­lho­sa. Am­bas se­dian­do tal­vez a úl­ti­ma es­pe­ran­ça da hu­ma­ni­da­de po­der re­ver­ter com po­lí­ti­cas pú­bli­cas a rea­li­da­de in­con­tes­tá­vel das mu­dan­ças cli­má­ti­cas em seus mu­ni­cí­pios, que é on­de tu­do prin­ci­pia e acon­te­ce.

A ini­cia­ti­va ma­de in Mi­nas foi ofi­cia­li­za­da em 17 de se­tem­bro do ano pas­sa­do, em uma car­ta as­si­na­da por Mar­cio La­cer­da en­de­re­ça­da ao se­cre­tá­rio-ge­ral do ICLEI, Kon­rad Ot­to-Zim­mer­mann, em Bonn, na Ale­ma­nha. Ne­la, o pre­fei­to apre­sen­tou e pe­diu a can­di­da­tu­ra de Be­lo Ho­ri­zon­te pa­ra se­diar o con­gres­so mun­dial, fa­zen­do re­fe­rên­cia às mon­ta­nhas que nos ca­rac­te­ri­zam: "Cer­ca­da pe­la Ser­ra do Cur­ral, que nos ser­ve de mol­du­ra na­tu­ral e re­fe­rên­cia his­tó­ri­ca, nos­sa ci­da­de foi fun­da­da em 1897, pla­ne­ja­da e cons­truí­da pa­ra ser cen­tro po­lí­ti­co e ad­mi­nis­tra­ti­vo do es­ta­do. Ela apre­sen­ta uma mis­tu­ra de tra­di­ção e mo­der­ni­da­de, des­ta­can­do-se pe­la be­le­za de seus con­jun­tos ar­qui­te­tô­ni­cos e por sua ri­ca pro­du­ção ar­tís­ti­ca e cul­tu­ral. Con­for­me es­ti­ma­ti­vas de 2008, com uma po­pu­la­ção lo­cal de 2,4 mi­lhões de ha­bi­tan­tes, so­mos a sex­ta ci­da­de mais po­pu­lo­sa do Bra­sil". E acres­cen­tou, jus­ti­fi­can­do o pe­di­do:

Posição exitosa - "Be­lo Ho­ri­zon­te já foi in­di­ca­da pe­la Po­pu­la­tion Cri­sis Com­mit­tee, da ONU, co­mo a me­tró­po­le com me­lhor qua­li­da­de de vi­da na Amé­ri­ca La­ti­na e a 45ª. en­tre as 100 me­lho­res ci­da­des do mun­do. Tem o quar­to maior Pro­du­to In­ter­no Bru­to (PIB) en­tre os mu­ni­cí­pios bra­si­lei­ros, re­pre­sen­tan­do 1,38% do to­tal das ri­que­zas pro­du­zi­das no país. Uma evi­dên­cia do nos­so de­sen­vol­vi­men­to, nos úl­ti­mos tem­pos, é apre­sen­ta­da pe­lo ranking da Re­vis­ta Amé­ri­ca Eco­no­mia, no qual o nos­so mu­ni­cí­pio fi­gu­ra co­mo uma das oi­to me­lho­res ci­da­des pa­ra fa­zer ne­gó­cios da Amé­ri­ca La­ti­na, em 2009, po­si­cio­nan­do-se em se­gun­do lu­gar. For­ma­da por 34 mu­ni­cí­pios, a Re­gião Me­tro­po­li­ta­na de Be­lo Ho­ri­zon­te pos­sui uma po­pu­la­ção es­ti­ma­da em 5,4 mi­lhões de ha­bi­tan­tes, sen­do a ter­cei­ra maior aglo­me­ra­ção po­pu­la­cio­nal bra­si­lei­ra, sé­ti­ma da Amé­ri­ca La­ti­na e a 62ª. maior do mun­do".

Em sua car­ta ao se­cre­ta­ria­do mun­dial do ICLEI (leia na ín­te­gra em nos­so si­te www.re­vis­tae­co­lo­gi­co.com.br), La­cer­da des­ta­cou a con­tem­po­ra­nei­da­de po­lí­ti­co-ad­mi­nis­tra­ti­va da nos­sa his­tó­ria am­bien­tal, o que não é co­nhe­ci­do nem di­vul­ga­do pe­la mí­dia con­ven­cio­nal: "Nos úl­ti­mos anos, Be­lo Ho­ri­zon­te ad­qui­riu uma exi­to­sa ex­pe­riên­cia na ges­tão em re­des in­ter­na­cio­nais de ci­da­des. O mu­ni­cí­pio ho­je pre­si­de o Cen­tro Ibe­roa­me­ri­ca­no de De­sen­vol­vi­men­to Es­tra­té­gi­co Ur­ba­no (CI­DEU), com o ob­je­ti­vo de com­par­ti­lhar, em re­de, os be­ne­fí­cios de­ri­va­dos dos pro­ces­sos de pla­ne­ja­men­to es­tra­té­gi­co ur­ba­no. Des­sa for­ma nós se­dia­mos o XVIII Con­gres­so do CI­DEU, em ju­lho de 2009, com a par­ti­ci­pa­ção de 200 au­to­ri­da­des e es­pe­cia­lis­tas re­pre­sen­tan­tes de 50 ci­da­des ibe­roa­me­ri­ca­nas. A ca­pi­tal mi­nei­ra tam­bém in­te­gra e coor­de­na a Re­de Ter­ri­to­rial Bra­si­lei­ra da As­so­cia­ção In­ter­na­cio­nal de Ci­da­des Edu­ca­do­ras, que vi­sa tra­ba­lhar, con­jun­ta­men­te, em pro­je­tos cu­ja ten­dên­cia é de­sen­vol­ver  o va­lor edu­ca­dor do con­tex­to ur­ba­no em to­dos os es­pa­ços. So­mos ain­da mem­bros da Re­de Mer­co­ci­da­des, cu­jo ob­je­ti­vo é fa­vo­re­cer a par­ti­ci­pa­ção dos mu­ni­cí­pios no pro­ces­so de in­te­ra­ção re­gio­nal e de­sen­vol­ver o in­ter­câm­bio e a coo­pe­ra­ção ho­ri­zon­tal en­tre as mu­ni­ci­pa­li­da­des da re­gião".

En­tre os dias pri­mei­ro e três de de­zem­bro de 2011, lem­brou La­cer­da, Be­lo Ho­ri­zon­te as­su­mi­rá as fun­ções de Se­cre­ta­ria-Exe­cu­ti­va da Re­de, com a or­ga­ni­za­ção da XV Cú­pu­la das Mer­co­ci­da­des e a par­ti­ci­pa­ção es­pe­ra­da de 800 pes­soas. "Va­le res­sal­tar ain­da a nos­sa po­si­ção co­mo se­de no Pro­gra­ma 100 Ci­da­des, cal­ca­do na ló­gi­ca do ‘Pen­sar Glo­bal­men­te e Agir Lo­cal­men­te’”, ele es­cre­veu,  re­fe­rin­do-se à rea­li­za­ção do Fó­rum de Coo­pe­ra­ção Des­cen­tra­li­za­da Itá­lia-Bra­sil, que ocor­reu em ju­lho de 2006, pos­si­bi­li­tan­do a as­si­na­tu­ra de um pro­to­co­lo de in­ten­ções em vi­gor en­tre Bea­gá e Tu­rim.

O pre­fei­to ter­mi­na a car­ta lem­bran­do que a "Be­lo Ho­ri­zon­te com­pro­me­ti­da com a sus­ten­ta­bi­li­da­de" se­rá uma das ci­da­des-se­de da Co­pa do Mun­do em 2014, bem co­mo uma das sub-se­des dos Jo­gos Olím­pi­cos de 2016. E que, por to­dos es­tes mo­ti­vos, a ca­pi­tal dos mi­nei­ros es­tá ap­ta a as­su­mir es­te gran­de de­sa­fio, que é se­diar o Con­gres­so Mun­dial do ICLEI’2012, uma se­ma­na an­tes da RIO + 20.

Re­sul­ta­do: ele con­cor­reu e ven­ceu seus co­le­gas pre­fei­tos de 35 ou­tras ci­da­des que in­te­gram o ICLEI. Con­ven­ceu. A pró­pria or­ga­ni­za­ção, em res­pos­ta afir­ma­ti­va di­vul­ga­da in­ter­na­cio­nal­men­te, re­co­nhe­ce que "ações des­ti­na­das a ga­ran­tir o de­sen­vol­vi­men­to sus­ten­tá­vel já são uma rea­li­da­de na ca­pi­tal mi­nei­ra, on­de vi­go­ra, por exem­plo, a proi­bi­ção da uti­li­za­ção das sa­co­las plás­ti­cas pe­lo co­mér­cio". Na­da me­nos que 450 mil sa­co­las não mais pro­du­zi­das por dia, cu­jo des­ti­no fi­nal era os buei­ros e cur­sos d´água ru­mo a ou­tros mu­ni­cí­pios, es­ta­dos e o ocea­no, com­pro­me­ten­do e ma­tan­do pei­xes, aves, tar­ta­ru­gas e ou­tros ani­mais, além de de­te­rio­ra­rem, su­ja­rem e tor­na­rem feias as pai­sa­gens na­tu­rais pe­lo ca­mi­nho.

La­cer­da, en­fim, plan­tou e irá co­lher os fru­tos. O en­con­tro do ICLEI es­tá ofi­cial­men­te mar­ca­do pa­ra acon­te­cer no mu­ni­cí­pio tam­bém já cha­ma­do e pos­sí­vel de vol­tar a ser, além de "Jar­dim", a "Ci­da­de Ver­gel" do Bra­sil, se­gun­do os ver­sos de Ola­vo Brás dos Gui­ma­rães Bi­lac.

Pas­sa­rá a mos­trar os qua­tro prin­ci­pais de­sa­fios que ele te­rá de en­fren­tar e re­sol­ver pa­ra com­pro­var, pe­ran­te a opi­nião pú­bli­ca, o seu so­nho sus­ten­tá­vel pa­ra a Be­lo Ho­ri­zon­te que se al­me­ja até 2030:

LAGOA SECA

A pres­são da ocu­pa­ção imo­bi­liá­ria ver­sus pre­ser­va­ção e am­plia­ção dos par­ques das Man­ga­bei­ras e Pa­re­dão no so­pé da Ser­ra do Cur­ral, on­de se­rão ex­tin­tas, em se­tem­bro de 2012, as ati­vi­da­des du­ran­te 50 anos da Mi­ne­ra­ção La­goa Se­ca. A con­di­cio­nan­te ori­gi­nal do li­cen­cia­men­to am­bien­tal pre­vê a sua trans­for­ma­ção e doa­ção co­mo área ver­de e de la­zer à po­pu­la­ção;

BOULEVARD DO ARRUDAS

Até hoje não foi implantado o original Projeto de Recuperação Ambiental, Urbanística e Paisagística (Boulevard do Arrudas) ao longo da Av. dos Andradas, entre a Ponte do Perrela e a Penitenciária Estevão Pinto, passando pela Câmara Municipal. Aprovado por unanimidade e voto de louvor pelo Comam, a PBH já tem R$ 5,5 milhões em caixa, para implantá-lo via Operação Urbana autorizada desde a Administração  Fernando Pimentel. Os recursos foram repassados pelo empresário Nelson Rigotto, como compensação ao licenciamento ambiental de construção do Boulevard Shopping.

NOVO MINEIRÃO

Co­mo evi­tar que to­da a área ex­ter­na do Mi­nei­rão (on­de por cau­sa das re­for­mas pró-Co­pa do mun­do fo­ram cor­ta­das 6.400 ár­vo­res fron­do­sas) se trans­for­me num mo­nu­men­to tão so­men­te de­di­ca­do à ari­dez do ci­men­to e as­fal­to, sem ver­de, sem flo­res, sem pas­sa­ri­nhos e sem som­bra pa­ra a po­pu­la­ção em uma ci­da­de, um es­ta­do, um país e um pla­ne­ta em ace­le­ra­do aque­ci­men­to glo­bal?

CIDADE JARDIM

Ar­bo­ri­zar as prin­ci­pais vias e ave­ni­das re­for­ma­das da ca­pi­tal, co­mo a Li­nha Ver­de até o Ae­ro­por­to de Con­fins e da no­va An­tô­nio Car­los, on­de an­tes tam­bém ha­viam mi­lha­res de ár­vo­res, os cha­ma­dos "jar­dins ver­ti­cais" im­plan­ta­dos pe­los pre­fei­tos an­te­rio­res e ho­je só se vê pas­seios pú­bli­cos e can­tei­ros cen­trais de ci­men­to. Ex­ten­sas áreas "ver­des"en­tre o as­fal­to, ape­nas com gra­ma e pal­mei­ras ti­po "Mia­mi", que não dão som­bra, nem flor nem atrai pas­sa­ri­nhos, mui­to me­nos ame­ni­zam o cli­ma.

Nes­se en­fren­ta­men­to de­se­já­vel que não é mais ca­ti­vo dos am­bien­ta­lis­tas, mas de to­do e qual­quer ci­da­dão que vi­ve e so­fre na pe­le os efei­tos das mu­dan­ças cli­má­ti­cas, prin­ci­pal­men­te nos cen­tros ur­ba­nos ári­dos e sem bu­co­lis­mo, a Re­vis­ta ECO­LÓ­GI­CO sua missão. Discutir mos­trar por que, in­di­fe­ren­te­men­te do me­do da Me­ta BH 2030 ser só um dis­cur­so e da des­con­fian­ça na­ta que nos ca­rac­te­ri­za co­mo mi­nei­ros, é mais eco­ló­gi­co, in­te­li­gen­te, po­lí­ti­co e sus­ten­tá­vel acre­di­tar e par­ti­ci­par do so­nho de La­cer­da. Ter­mos es­pe­ran­ça. Acre­di­tar, co­brar e tor­cer, ain­da que pa­re­ça tar­de no re­ló­gio glo­bal da na­tu­re­za que nos pro­te­ge e amea­ça. Afi­nal, co­mo di­zia Drum­mond, o tem­po pre­sen­te, hu­ma­no e ur­ba­no, tam­bém ur­ge: "Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas..."

Você Sabia?

- Que os impactos ambientais da construção civil vão desde o alto consumo de recursos naturais (energia, água, petróleo), passando por emissões de gás carbônico (CO2) e outras substâncias tóxicas até a elevadíssima geração de resíduos?

- Que a geração de entulho por construções e demolições é maior que todo o lixo urbano?

- Que dos recursos naturais extraídos na América Latina, mais da metade são consumidos pela construção civil?

- Que a quantidade de resíduos de construção e demolição no Brasil é em torno de 450 kg/habitante/ano ou cerca de 80 milhões de toneladas/ano, causando impactos no ambiente urbano e nas finanças municipais.

- Que o setor de construção civil gera 17 mil toneladas de entulho por dia na Região Metropolitana de São Paulo e Belo Horizonte, do total de resíduos produzidos, 42% advêm dos resíduos da construção civil?

- Que melhor que edificar e construir a qualquer custo socioambiental, é humanizar o que já foi urbanizado e preservar integralmente o que ainda existir de áreas verdes naturais em nossas cidades para as próximas gerações?


Postar comentário